O livre arbítrio significa o poder de escolher suas ações. A pessoa faz essa escolha considerando
uma análise relacionada ao meio, sendo que o resultado pode beneficiá-la ou
não. A existência do livre arbítrio tem sido uma questão central na história da
filosofia e da ciência. O conceito de livre arbítrio tem implicações
religiosas, morais, psicológicas e científicas.
Considerando
a ética, o livre arbítrio pode implicar que os indivíduos possam ser
considerados moralmente responsáveis pelas suas ações. Em psicologia, ele
implica que a mente controla certas ações do corpo. No domínio religioso, o
livre arbítrio pode implicar que uma divindade não imponha seu poder sobre a
vontade e as escolhas individuais. É a base das maiores religiões atuais
monoteístas, estando explícita no cristianismo, no judaísmo e no islamismo.
Para
facilitar e compreensão, segundo as religiões citadas acima, Deus criou tudo e
é onipotente, onisciente e onipresente. Isto quer dizer que Deus conhece o
presente, o passado e o futuro, sabe de tudo e está presente em todos os
lugares ao mesmo tempo, portanto, possui todo o poder do Universo. Desta forma,
é impossível uma de suas criaturas o surpreender, porque, como citado acima,
ele sabe tudo, conhece tudo e está no princípio e no fim de todas as coisas.
Agora, utilizando um exemplo,
vamos discutir um pouco. Considerando que um homem nasceu em 1940 e morreu em
2010, ele, portanto, viveu 70 anos e morreu como um ateu
convicto. Assim, usando o livre arbítrio, fez a opção errada e foi parar no
inferno e vai sofrer eternamente por não ter se tornado um religioso. Agora,
analise: se Deus já sabia o final de tudo, mesmo antes deste homem nascer, já
sabia que ele seria ateu, então como este homem poderia decidir alguma coisa?
Portanto, se Deus já sabia onde este homem iria parar, por que deixou que este
ateu viesse ao mundo? Se Deus conhece o futuro, qual foi a sua intenção de
jogar fora a sua criação? Como este homem pode ser julgado por “uma escolha”,
sabendo que antes de nascer já tinha sido condenado? Por que permite que 2/3 da
população mundial vá para o inferno?
No meu
ponto de vista, o livre arbítrio só teria sentido se Deus não soubesse quais
seriam as nossas escolhas e nem onde estas escolhas poderiam nos levar. Mas, se
Deus não sabe do futuro e, desta forma, nossas decisões podem surpreendê-lo, ele
não é onisciente, nem onipresente e onipotente. O livre arbítrio já se
autolimita nas condições de nossa formação, porque não decidimos se vamos ter
um problema genético, qual família vamos nascer e nem em que povo vamos estar
presentes para escolher nossa religião.
O que eu questiono
é a utilização do livre arbítrio por determinados religiosos como justificativa
por erros naturais cometidos pelos homens, evitando o comprometimento Divino. Se
Deus ama a todos e é bom, então, por que o mundo é cheio de imperfeições? Cheio
de sofrimentos e miséria? Será nossa culpa? Assim, só posso entender que
estragamos a obra de Deus.
Um artigo interessante pode ser
encontrado na revista Superinteressante. Este artigo faz
uma pergunta: “Você se interessou pelo
tema desta reportagem e, por isso, resolveu dar uma lida. Certo?”, e
responde: “Errado! Muito antes de você
tomar essa decisão, a sua mente já havia resolvido tudo sozinha – e sem lhe
avisar”. Este é um resultado de experimentos feitos no Centro Bernstein de
Neurociência Computacional, em Berlim, Alemanha.
Ainda seguindo a reportagem da
Superinteressante, nos estudos foram colocados em xeque o que costumamos chamar
de livre arbítrio. Nestes experimentos, os voluntários foram colocados em
frente a uma tela na qual era exibida uma sequência aleatória de letras. Eles
deveriam escolher uma letra e apertar um botão quando ela aparecesse. Simples,
não? Acontece que, monitorando o cérebro dos voluntários via ressonância
magnética, os cientistas chegaram a uma descoberta impressionante. Alguns
segundos antes dos voluntários apertarem o botão, sinais elétricos correspondentes
a essa decisão apareciam nos córtices frontopolar e medial, as regiões do
cérebro que controlam a tomada de decisões. Portanto, o cérebro decide antes da
consciência.
Para finalizar, considerando como
querem os criacionistas, Deus foi o grande Designer e fez todos os seres vivos
estabelecendo os critérios de como suas vidas devem funcionar, eu, utilizando o
livre arbítrio, decido ter uma vida normal dentro das normas religiosas e
cumprindo todas as atribuições para ser uma pessoa “do bem”. Espero viver a
média do tempo de vida de um ser humano, cerca de 70 anos, feliz. Entretanto,
nasci com um erro de design, com um problema genético, que limita minha vida
para 50 anos. Como poderia eu ter o livre arbítrio se o Designer já havia
definido o que iria acontecer? Portanto, não pode existir o livre arbítrio ou
não pode existir a onipotência de Deus, as partes são excludentes, criando um
paradigma.
Edson Perrone
ecperrone@gmail.com