22- O livre arbítrio

           O livre arbítrio significa o poder de escolher suas ações. A pessoa faz essa escolha considerando uma análise relacionada ao meio, sendo que o resultado pode beneficiá-la ou não. A existência do livre arbítrio tem sido uma questão central na história da filosofia e da ciência. O conceito de livre arbítrio tem implicações religiosas, morais, psicológicas e científicas.
         Considerando a ética, o livre arbítrio pode implicar que os indivíduos possam ser considerados moralmente responsáveis pelas suas ações. Em psicologia, ele implica que a mente controla certas ações do corpo. No domínio religioso, o livre arbítrio pode implicar que uma divindade não imponha seu poder sobre a vontade e as escolhas individuais. É a base das maiores religiões atuais monoteístas, estando explícita no cristianismo, no judaísmo e no islamismo.
         Para facilitar e compreensão, segundo as religiões citadas acima, Deus criou tudo e é onipotente, onisciente e onipresente. Isto quer dizer que Deus conhece o presente, o passado e o futuro, sabe de tudo e está presente em todos os lugares ao mesmo tempo, portanto, possui todo o poder do Universo. Desta forma, é impossível uma de suas criaturas o surpreender, porque, como citado acima, ele sabe tudo, conhece tudo e está no princípio e no fim de todas as coisas.
         Agora, utilizando um exemplo, vamos discutir um pouco. Considerando que um homem nasceu em 1940 e morreu em 2010, ele, portanto, viveu 70 anos e morreu como um ateu convicto. Assim, usando o livre arbítrio, fez a opção errada e foi parar no inferno e vai sofrer eternamente por não ter se tornado um religioso. Agora, analise: se Deus já sabia o final de tudo, mesmo antes deste homem nascer, já sabia que ele seria ateu, então como este homem poderia decidir alguma coisa? Portanto, se Deus já sabia onde este homem iria parar, por que deixou que este ateu viesse ao mundo? Se Deus conhece o futuro, qual foi a sua intenção de jogar fora a sua criação? Como este homem pode ser julgado por “uma escolha”, sabendo que antes de nascer já tinha sido condenado? Por que permite que 2/3 da população mundial vá para o inferno?
         No meu ponto de vista, o livre arbítrio só teria sentido se Deus não soubesse quais seriam as nossas escolhas e nem onde estas escolhas poderiam nos levar. Mas, se Deus não sabe do futuro e, desta forma, nossas decisões podem surpreendê-lo, ele não é onisciente, nem onipresente e onipotente. O livre arbítrio já se autolimita nas condições de nossa formação, porque não decidimos se vamos ter um problema genético, qual família vamos nascer e nem em que povo vamos estar presentes para escolher nossa religião.
         O que eu questiono é a utilização do livre arbítrio por determinados religiosos como justificativa por erros naturais cometidos pelos homens, evitando o comprometimento Divino. Se Deus ama a todos e é bom, então, por que o mundo é cheio de imperfeições? Cheio de sofrimentos e miséria? Será nossa culpa? Assim, só posso entender que estragamos a obra de Deus.
         Um artigo interessante pode ser encontrado na revista Superinteressante. Este artigo faz uma pergunta: “Você se interessou pelo tema desta reportagem e, por isso, resolveu dar uma lida. Certo?”, e responde: “Errado! Muito antes de você tomar essa decisão, a sua mente já havia resolvido tudo sozinha – e sem lhe avisar”. Este é um resultado de experimentos feitos no Centro Bernstein de Neurociência Computacional, em Berlim, Alemanha.
         Ainda seguindo a reportagem da Superinteressante, nos estudos foram colocados em xeque o que costumamos chamar de livre arbítrio. Nestes experimentos, os voluntários foram colocados em frente a uma tela na qual era exibida uma sequência aleatória de letras. Eles deveriam escolher uma letra e apertar um botão quando ela aparecesse. Simples, não? Acontece que, monitorando o cérebro dos voluntários via ressonância magnética, os cientistas chegaram a uma descoberta impressionante. Alguns segundos antes dos voluntários apertarem o botão, sinais elétricos correspondentes a essa decisão apareciam nos córtices frontopolar e medial, as regiões do cérebro que controlam a tomada de decisões. Portanto, o cérebro decide antes da consciência.
         Para finalizar, considerando como querem os criacionistas, Deus foi o grande Designer e fez todos os seres vivos estabelecendo os critérios de como suas vidas devem funcionar, eu, utilizando o livre arbítrio, decido ter uma vida normal dentro das normas religiosas e cumprindo todas as atribuições para ser uma pessoa “do bem”. Espero viver a média do tempo de vida de um ser humano, cerca de 70 anos, feliz. Entretanto, nasci com um erro de design, com um problema genético, que limita minha vida para 50 anos. Como poderia eu ter o livre arbítrio se o Designer já havia definido o que iria acontecer? Portanto, não pode existir o livre arbítrio ou não pode existir a onipotência de Deus, as partes são excludentes, criando um paradigma.
 Edson Perrone
ecperrone@gmail.com